sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

"Respiro a flor...", um poema de José António Franco














respiro a flor da humana paciência
intacta na falsa margem do silêncio
entre rubras fragrâncias de amoras
em linho branco com pão fresco

uma dança de chamas sem movimento
fluxos de espigas vazias como palavras sem vento
alucinação de flautas pálidas e pássaros
numa concha de espuma inconstante

— alquimia de deuses constelações de lábios e silêncios

as mãos brilham entre as sílabas da manhã
perdem-se nos ombros orvalhados
invenções de escarpas ilegíveis
na serenidade mineral do horizonte

sem tempo para a imortalidade
só a coragem magnífica da ternura
resplandece na tela que manuscreve
o destino transfigurado da cidade

na hora de todos os naufrágios
uma gaivota voo de pedra
em pedaço de céu repentino

— cidade em que me segredo

                                                       José António Franco

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