segunda-feira, 18 de julho de 2016

Quando os gatos são os protagonistas

As melhores histórias de gatos é uma antologia, que reúne 22 contos, em que, como o título indica, os gatos são protagonistas.
  • O paraíso dos gatos de Emile Zola
  • Lillian de Damon Runyon
  • A infância de miss Churt de F. R. Buckley
  • A gata gorda de Q. Patrick
  • A queda do Morning Glory Adolphus de Margaret Cambell
  • De como uma gata fez de Robinson Crusoe de Charles G. D. Roberts
  • A caça grossa de Ming de Patricia Highsmith
  • Os gatos da Srª Bond de James Herriot
  • O gato de Dick Baker de Mark Twain
  • A gata da minha vida de Derek Tangye
  • Kym de Joyce Stranger
  • Um sítio óptimo para a gata de Margaret Bonham
  • A bandeira azul de Kay Hill
  • A história de Webster de P. G. Woodhouse
  • Só complicações de Doreen Tovey
  • Heathcliff de Lloyd Alexander
  • O gato que andava sozinho de Rudyard Kippling
  • Um barco carregadinho de graça de Eleanor Mordaunt
  • Sobretudo gatos de Doris Lessing
  • A dinastia preta e a dinastia branca de Théophile Gautier
  • Aspirina, o gato de John Coleman Adams
  • A melhor das camas de Sylvia Townsend Warner
Deixamos lhe aqui o convite à leitura com um excerto do conto "O gato que andava sozinho" de Rudyard Kipling.

"Isto passou-se e aconteceu e deu-se e foi, ó minha Bem-Amada quando os animais domésticos ainda eram selvagens. O Cão era selvagem, o Cavalo era selvagem e a Vaca era selvagem, a Ovelha era selvagem e o Porco era selvagem – o mais selvagem possível – e todos eles andavam nas húmidas florestas selvagens cada qual com os da sua espécie; mas o mais selvagem de todos os animais selvagens era o Gato. O Gato andava sozinho e todos os lugares eram iguais para ele.
Claro que o Homem também era selvagem. Era terrivelmente selvagem. Só começou a ficar domesticado quando encontrou a Mulher e porque esta não gostava da maneira selvagem como ele vivia. A Mulher escolheu uma gruta seca e confortável em vez de um monte de folhas molhadas para dormir e no fundo da gruta fez uma fogueira agradável e pendurou à entrada uma pele seca de Cavalo Selvagem, com a cauda para baixo e disse: “Limpa os pés quando entrares para termos a casa em ordem.”
Nessa noite, Bem-Amada, comeram Carneiro Selvagem assado nas pedras quentes da lareira e temperado com alho e pimenta brava e Pato Selvagem recheado de arroz bravio e funcho silvestre e cominhos bravos e ossos de tutano de Boi Selvagem e cerejas bravas e groselhas silvestres. Depois o Homem foi dormir todo contente junto do fogo mas a Mulher ficou acordada, sentada, a matutar. Pegou no osso da omoplata do carneiro, o grande osso chato e largo, ficou a contemplar as maravilhosas marcas que o osso tinha, pôs mais lenha no fogo e fez uma magia. Fez a primeira Magia Cantante do mundo.
Lá fora, nas húmidas florestas selvagens, todos os animais selvagens se reuniram num ponto de onde conseguiam ver a luz do fogo ao longe e perguntavam a si próprios o que poderia ser aquilo.
Então o Cavalo Selvagem bateu com a pata no chão e disse:
- Ó meus amigos e meus inimigos, porque é que o Homem e a Mulher fizeram aquela grande luz naquela grande gruta e que mal nos poderá aquilo trazer?
O Cão Selvagem ergueu o focinho e farejou o cheiro da ovelha assada e disse:
- Vou erguer-me e caminhar, e ver e ficar lá: porque penso que é bom. Gato, vem comigo.
- Nérias – disse o Gato. – Eu sou o Gato que anda sozinho e todos os lugares são iguais para mim. Não vou.
- Então não voltaremos a ser amigos – disse o Cão Selvagem e partiu a trote em direcção à gruta.
Mas passado um bocado o Gato disse para com os seus botões:
- Todos os lugares são iguais para mim. Porque não hei-de eu também pôr-me a caminho e ver e vir-me embora?
E assim rastejou em silêncio atrás do Cão Selvagem e escondeu-se num sítio onde podia ouvir tudo.
Quando o Cão Selvagem chegou à entrada da gruta soergueu com o focinho a pele de cavalo seca, farejou o maravilhoso cheiro do carneiro assado e a Mulher ouviu-o, riu-se e disse:
- Aqui vem a primeira coisa selvagem saída da floresta selvagem. Que queres tu?
O Cão Selvagem disse:
- Ó minha inimiga e mulher do meu inimigo, que é isto que cheira tão bem na floresta selvagem?
Então a Mulher pegou num osso do carneiro assado, atirou-o ao Cão Selvagem e disse:
- Coisa selvagem vinda da floresta selvagem, prova e experimenta!
O Cão Selvagem roeu o osso e era mais delicioso que qualquer outra coisa que ele comera na vida; disse:
- Ó minha inimiga e mulher do meu inimigo, dá-me outro.
A Mulher disse:
- Coisa selvagem vinda da floresta selvagem, ajuda o meu Homem a caçar durante o dia e guarda esta gruta durante a noite e dou-te todos os ossos assados que quiseres.
- Ah! – disse o Gato que tinha ouvido tudo – esta Mulher é muito sensata mas não é tão sensata como eu.
O Cão Selvagem rastejou para dentro da gruta e pousou a cabeça no regaço da Mulher e disse:
- Ó minha amiga e mulher do meu amigo, eu ajudarei o teu Homem a caçar durante o dia e guardarei a tua gruta durante a noite.
- Ah! – disse o Gato que tinha ouvido tudo. – Aqui temos um Cão bem tolo.
E foi-se embora através da húmida floresta selvagem abanando o rabo, sozinho na sua independência selvagem. Mas nunca contou nada a ninguém.
Quando o Homem acordou, disse:
- Que está o Cão Selvagem a fazer aqui?
E a mulher disse:
- O nome dele já não é Cão Selvagem mas sim Primeiro Amigo porque será nosso amigo para todo o sempre. Leva-o contigo quando fores caçar. (…)

Leia, porque ler é um prazer!

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

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