sexta-feira, 1 de abril de 2016

Livro do mês: A praça da canção de Manuel Alegre

Praça da Canção, de Manuel Alegre, há muito ultrapassou as fronteiras da literatura para assumir uma dimensão simbólica ou mesmo mítica. Quando saiu, no início do ano de 1965, há 51 anos foi também um incisivo retrato de uma « [...] pátria parada / à beira de um rio triste», foi uma bandeira desfraldada e um rastilho de resistência e luta contra a ditadura. Hoje, cerca de quatro décadas depois da profunda mudança da realidade (aparentemente?) na génese da maioria dos seus poemas, e que em parte explica a sua imediata extraordinária repercussão e influência, a Praça da Canção «continua»: sucessivas gerações a leram, ouviram, se calhar cantaram, de certo modo viveram. E isto diz muito, se não tudo.

[...]

Os versos de Praça da Canção andaram, desde sempre, de boca em boca, de mão em mão, de coração em coração, em simultâneo singular expressão individual de um poeta e vigorosa voz coletiva de um povo.


(poema "Estou Triste" dito por Mário Viegas)

Soneto

É preciso saber porque se é triste 
é preciso dizer esta tristeza
que nós calamos tantas vezes mas existe 
tão inútil em nós tão portuguesa. 

É preciso dizê-la é preciso despi-la 
é preciso matá-la perguntando 
porquê esta tristeza como e quando 
e porquê tão submissa tão tranquila. 

Esta tristeza que nos prende em sua teia 
esta tristeza aranha esta negra tristeza 
que não nos mata nem nos incendeia 

antes em nós semeia esta vileza 
e envenena o nascer de qualquer ideia. 
É preciso matar esta tristeza. 

Manuel Alegre, Praça da Canção, 1965 

Nota biográfica: Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu em 1936, em Águeda. Estudou em Lisboa, no Porto e na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Foi campeão de natação e actor do Teatro Universitário de Coimbra (TEUC).
Em 1961 é mobilizado para Angola. Preso pela PIDE, passa seis meses na Fortaleza de S. Paulo, em Luanda, onde escreve grande parte dos poemas do seu primeiro livro, Praça da Canção.
A sua vasta obra literária, que inclui o romance, o conto, o ensaio, mas sobretudo a poesia, tem sido amplamente difundida e aclamada.
Foram-lhe atribuídos os mais distintos prémios literários: Grande Prémio de Poesia da APE-CTT, Prémio da Crítica Literária da AICL, Prémio Fernando Namora, Prémio Pessoa em 1999 e Prémio Vida Literária da APE em 2016. Ao seu livro de poemas Doze Naus foi atribuído o Prémio Dom Dinis.


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