quarta-feira, 19 de março de 2014

Ler e sentir poesia (III)

Poesia, poesia… de António Manuel Couto Viana

Recordas-te, Fernando, cada dia
Em que eu subia à tua casa, em S. João d’Arga,
Carregado de livros de poesia?
Recebias, ansioso, o oiro dessa carga.

Iam comigo o Régio, o Homem de Mello,
O Serpa, como nós, provincial,
A desvendar-te um novo estilo, um novo belo,
A ti, que eras todo Antero de Quental.

Tu já fazias versos. Mas eu, não:
Tímido em confessar a alma inquieta,
Inventava outros eus, fugindo à tentação
De ser de mim poeta.

E no adro tranquilo
(Esse tempo, quem dera!)
Ia ouvir-nos a sombra de Camilo
Que ali perto vivera, em certa Primavera.

Vibrávamos os dois com o canto, a magia
(Exaltadas, as horas tão rápidas passando…),
E era tudo poesia, poesia…
Recordas-te, Fernando?

António Manuel Couto Viana in 60 anos de poesia, vol. II

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