quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vindima de Miguel Torga





Vindima é o primeiro romance da autoria de Miguel Torga. Publicado em 1945 constitui uma homenagem ao Douro, às suas gentes e às suas paisagens. Um livro para todos os que amam esta extraordinária região.








Excerto do prefácio do autor à tradução inglesa:

Querido leitor:

Vais ler um livro que eu hoje teria escrito doutra maneira. Cingido à realidade humana do momento, romanceei um Doiro atribulado, de classes, injustiças, suor e miséria. E esse Doiro, felizmente, está em vias de mudar. Não tanto como o querem fazer acreditar certas más consciências, num, enfim, em muitos aspectos, e sensivelmente diferente do que descrevi. Desapareceram os patrões tirânicos, as cardenhas degradantes, os salários de fome. As rogas descem da Montanha de camioneta, a alimentação melhorou, o trabalho é menos duro. Também o rio já não tem cachões, afogados em albufeiras de calmaria.

E, contudo, julgo sinceramente que não cansarás ingloriamente os olhos na contemplação do painel que pintei. Conhecer o passado ajuda às vezes a entender o presente.

******
“Este magnífico romance de Miguel Torga foi injustamente considerado como obra menor aquando da sua publicação em 1945. As preocupações sociais e a solidariedade apaixonada do seu olhar sobre o povo aproximam Vindima das ficções neo-realistas. O que distingue este romance é antes de mais a deslumbrante escrita de Miguel Torga. No entanto, trata-se de um romance voluntariamente realista e que aponta, sem sombra de dúvida, na direcção de uma profunda transformação da sociedade

Torga exprime o seu amor à terra, à sua rudeza, à sua grandeza - e ao povo que dela vive e aluga os braços em ocasiões difíceis, para sobreviver. As personagens que cria não são apenas ilustração de estamentos sociais diversos em conflito social. São-no, sem dúvida, mas representam a variedade da vida: a saúde e a doença, o desejo, a ambição, a vaidade, o remorso, a alegria. O narrador pinta quadros provincianos e rurais de festa, de ostentação, de primavera e de desgraça. O Dr. Bruno é o citadino em férias, convidado pelos Meneses, que, mal aceite pela poetisa Catarina, da família senhorial, seduz Guiomar, filha de um arrivista implacável com os trabalhadores. A teia do romance é vasta e complexa. Trás-os-Montes aparece-nos nos vindimadores da roga, nos seus derriços e na sua raiva contra os que os humilham. Iládio mostra-se abusador e covarde; Alberto, generoso e infeliz, acaba por morrer. A roga torna à montanha, a S. Martinho, o Dr. Bruno furta-se às suas responsabilidades. A mesma vida injusta, dura para uns, dadivosa para outros, segue o ciclo dos dias.”

Urbano Tavares Rodrigues
(acedido a 10.10.2013)

Leia, porque ler é um prazer!

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é bem vindo! Partilhe as suas ideias sobre livros e escritores, tente seduzir alguém para o prazer de ler!