sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Recordando Pessoa

 
No dia em que passam 77 anos da morte de Fernando Pessoa, um dos maiores poetas de língua portuguesa e inequivocamente, a mais complexa personalidade literária portuguesa e europeia do século XX, aproveitamos para divulgar os livros do autor disponíveis na Biblioteca e convidamos à leitura de dois dos seus poemas:
 
À noite
O silêncio é teu gémeo no Infinito.
Quem te conhece, sabe não buscar.
Morte visível, vens dessedentar
O vago mundo, o mundo estreito e aflito.
Se os teus abismos constelados fito,
Não sei quem sou ou qual o fim a dar
A tanta dor, a tanta ânsia par
Do sonho, e a tanto incerto em que medito.
Que vislumbre escondido de melhores
Dias ou horas no teu campo cabe?
Véu nupcial do fim de fins e dores.
Nem sei a angústia que vens consolar-me.
Deixa que eu durma, deixa que eu acabe
E que a luz nunca venha despertar-me!
 
In: Poesia I: 1902-1929
 
Porque esqueci quem fui quando criança?
Porque deslembra quem então era eu?
Porque não há nenhuma semelhança
Entre quem sou e fui?
A criança que fui vive ou morreu?
Sou outro? Vejo um outro em mim viver?
A vida, que em mim flui, em que é que flui?
Houve em mim várias almas sucessivas
Ou sou um só inconsciente ser?
 
In: Poesia II: 1930-1933
 
Alguns dos livros do autor disponíveis na Biblioteca:
  • A procura da verdade oculta : textos filosóficos e esotéricos. Mem Martins : Europa-América, D.L. 1986 
  • Aviso por causa da moral. Lisboa : Hiena, 1986 
  • Mensagem de Fernando Pessoa. Lisboa : Comunicação, 1986 
  • O Livro do Desassossego. Linda-a-Velha : Abril/Controljornal, 2000. ISBN 972-611-630-9 
  • O louco rabequista. 1ª ed. Lisboa : Presença, 1988 
Consulte o catálogo concelhio para saber que outros livros do e sobre o autor existem na rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil!
Leia, porque ler é um prazer!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Stefan Zweig: escritor inquieto

Stefan Zweig (Viena, 28 de Novembro de 1881 — Petrópolis, 23 de Fevereiro de 1942) foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco. Foi um dos escritores do mundo mais conhecidos na década de 1920-1930, sobretudo nos EUA, na América do Sul e na Europa. A sua ficção conheceu grande êxito no seu tempo, porém foi o género biográfico que mais o distinguiu.
 
Escritor representativo do chamado «espaço Viena», pôde testemunhar o ocaso do Império Austro-Húngaro, e daí a amarga tomada de consciência de que também as civilizações são mortais. Quando Stefan Zweig entrou na cena literária, na viragem do século XIX para o XX, respirava-se ainda o fino clima estético do simbolismo. Mas o espectáculo das ruínas da Primeira Guerra Mundial aproximou-o de uma visão catastrófica do homem e da história.
 
Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial Stefan Zweig abandonou a Áustria. Em 1934 foi para a Inglaterra onde se naturalizou cidadão britânico. Em 1940, assustado com a queda de Paris e o avanço nazista, Zweig resolveu viajar para o Brasil, a fim de colher material para o “livro brasileiro”. Depois de dar várias conferências no Brasil e na Argentina, fixa-se em 1941 em Petropólis. 
 
Desgostoso com os rumores de que se teria “vendido” ao governo brasileiro para escrever o seu livro sobre o Brasil e com a sombria situação do mundo mergulhado em guerra, Zweig foi se tornando cada vez mais deprimido. Nos cinco meses que viveria em Petrópolis, ainda produziu muito: terminou a sua autobiografia, escreveu a novela Uma partida de Xadrez, iniciou a biografia de Montaigne e retocou outras obras. Mas a sua depressão aumentou e na noite de 22 para 23 de fevereiro de 1942 Zweig consumou com Lotte, a sua segunda mulher, o seu pacto de morte cuidadosamente preparado. 
 
Obras do autor disponíveis na Biblioteca:
 
  • Contos
  • Os construtores do mundo : três poetas da própria existência: Casanova, Stendhal, Tolstoi
  • José Fouché
  • Os Construtores do Mundo: O Combate com o Demónio
  • Castelio contra Calvino
  • Fernão de Magalhães
  • Maria Stuart
  • Noite Fantástica
  • O medo
  • Caleidoscópio: (Lendas)
  • Um Segredo Ardente
  • Amok : (O Doido da Malásia)
  • Três paixões
  • Sigmund Freud : la guérison par l'esprit 
Mais informação em:
 
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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Divulgando o fundo local XIX: Coja, à descoberta de uma vila

 
Coja: à descoberta de uma vila é nas palavras do seu autor, Nuno Mata, um inventário artístico sobre alguns aspectos monumentais e paisagísticos da vila de Coja. Foi intenção do autor “deixar um testemunho perene do que actualmente Coja tem para mostrar, mais no aspecto da cultura popular e artesanal (…)”. 

Ao longo de 77 páginas Nuno Mata faz sobressair vários aspectos do património histórico e artístico da vila que no dia-a-dia passam despercebidos aos transeuntes, com a intenção de deixar um testemunho perene sobre os mesmos e com o objectivo de sensibilizar os leitores para a riqueza patrimonial que a vila tem.

Detalhes captados por um olhar atento, tais como “os espelhos de fechadura e outros ornamentos
em ferro”, “a utilização do granito”e “janelas” são fixados neste livro em texto fluído e com desenhos do próprio autor.

Coja: à descoberta de uma vila foi o primeiro livro publicado por Nuno Mata, que desde então manteve sempre o interesse sobre a Vila e a região envolvente. 

Outras obras do autor disponíveis na Biblioteca:

Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coja : subsídios para a sua história. 1ª ed. [S.l. : s.n.], 2005. 36 p.

Uma vez por mês. 1ª ed. [S.l.] : Edição, cop. 2005. 69 p. ISBN 972-99497-0-0

A princesa da travessa. Coja : Corpo Nacional de Escutas-Agrupamento 696, 1994. 59 p. ISBN 972-96022-1-2

Ruas de Coja : traçado e toponímia. [S.l. : s.n.], 1995. 94 p.

Coja : roteiro de visita. 1ª ed. [S.l. : s.n.], 2010. 26 p., [1] f. desdobr. ISBN 978-972-99497-5-3

Pelourinhos da Beira Serra. Coja : Rancho Infantil e Juvenil de Coja, 2000. 56 p.

Alberto Martins de Carvalho : o homem, o autor, a biblioteca. 1ª ed. [Coja] : Os Castiços, D.L. 2006. 91 p. ISBN 978-972-99497-1-5

Memória da freguesia de Coja na 1ª página de A Comarca de Arganil : 1901-1950. [1ª ed.]. [S.l.] : NGMN, 2008. 367 p. ISBN 978-972-99497-2-2
 
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

300º aniversário do nascimento de Jean-Jacques Rousseau

Em 2012 assinala-se o 300º aniversário do nascimento do escritor e filósofo humanista Jean-Jacques Rosseau.

Nascido em Genebra a 28 de Junho de 1712, e falecido em Ermenonville a 2 de Julho de 1778, Rosseau antagonizou os princípios do Iluminismo, anunciando já aqueles que viriam as ser os valores centrais do romantismo, ao recentrar a reflexão sobre a natureza humana nos temas da sensibilidade, do sentimento e da paixão em detrimento da razão.

Rosseau divulgou a sua filosofia não só através de escritos filosóficos formais, mas também através de romances, cartas e na sua autobiografia. É autor de: Discursos sobre as ciências e as artes (1749); Discurso sobre a origem da desigualdade (1755); Contrato social; Emílio (1762), entre outros.

Obras do autor disponíveis na Biblioteca Municipal de Arganil:

- Emílio

«Emílio não passa de um tratado sobre a bondade original do homem e destina-se a demonstrar como o vício e o erro – estranhos à sua constituição – se introduzem nele, vindos do exterior, e o alteram insensivelmente.» Estas palavras de Jean-Jacques Rousseau sobre Emílio, publicado pela primeira vez em 1762, não reflectem o escândalo por ele provocado através da exposição das ideias religiosas do autor, nem tampouco a importância história que veio a adquirir no domínio da pedagogia. Tratado sobre a educação, segundo princípios «naturais», e obra de revolta contra o barbarismo da educação dada às crianças, Emílio, foi condenado à fogueira e Rousseau teve de abandonar a França para fugir à prisão.
O propósito de Emílio é o de formar um homem livre; e o verdadeiro amor pelas crianças e pela liberdade nele revelado tornam-no um livro para todas as épocas e gerações de educadores.

Fonte: contra-capa

- Os devaneios do caminhante solitário

Este grande testamento inacabado combina o argumento filosófico com anedotas saborosas da própria vida e descrições poéticas de um homem que se sente afastado de todos. O livro é um fascinante retrato do autor, que aqui encontra espaço para analisar o passado e se defender dos críticos que o condenaram à solidão.


- Ensaio sobre a origem das línguas

“Este ensaio, que só foi publicado depois da morte de Rousseau, inclui-se, presumivelmente, entre as obras de seu período inicial de produção. Indicam-no o estilo, a própria organização da matéria e, sobretudo, os assuntos de que trata. (…)
Distinguem-se no Ensaio três partes bem caracterizadas e correspondendo a três interesses bem definidos: a) a origem da linguagem — estudo da necessidade de comunicação no homem natural; b) diferenciação das línguas — estudo da evolução dos grupos humanos e dos meios de expressão; c) estudo particular das questões musicais relacionadas com a evolução linguística e social.”

Paul Arbousse-Bastide e Lourival Gomes Machado

- Contrato social

“Se eu apenas considerasse a força e o efeito que dela deriva, diria: «quando um povo é obrigado a obedecer, faz bem; mas se sacode o jugo, logo que o pode sacudir, faz melhor: porque, ao recuperar a sua liberdade, usa o mesmo direito que lha arrebatou e se é justo que a retome, é injusto que lha tirem». Mas a ordem social é um direito sagrado que serve de base a todos os outros. Contudo, este direito não veio da natureza; apoia-se em convenções. Trata-se de se saber que convenções são estas. Mas antes de lá chegar, devo demonstrar o que afirmo».

Jean-Jacques Rousseau
Fonte: contra-capa

- Confissões

Confissões marca uma data na literatura intimista. É além disso uma obra-prima literária, na qual se desenvolve em plena maturidade o estilo vibrátil, incisivo, animado por contrastes que fizeram de Rousseau um dos maiores escritores de língua francesa. Este livro eterno é a súmula da experiência humana do autor, das suas ilusões e desilusões; aí se retrata a sociedade tal qual a viu e sentiu: documento de uma época, portanto: mas que a transcendeu e permanece jovem.

Fonte: contra-capa

Mais informação em:


http://www.culturabrasil.pro.br/rousseau.htm
ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
http://www.infopedia.pt/$jean-jacques-rousseau

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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Divulgando o fundo local XVIII: Para além da esperança

Para além da esperança é uma obra da autoria de Maria Leonarda Tavares, com prefácio de Maria Rosa Colaço, editada pela A.D.F.A. (Associação dos Deficientes das Forças Armadas), publicada em 1988.

“A história é a de um paraplégico, vítima da guerra colonial, que seria mais um entre milhares não fosse o encontro com uma mulher que, de forma quase inacreditável, empurra a vida, e os desaires, teimosamente acende a esperança. (…) É uma história-testemunho de casos e tempos reais.(…) O livro é a história de um grande amor, mas é sobretudo, o caminho firme de quem avança acreditando que, na vida, o mais importante é a vida. ”. (1)

Esta obra foi de acordo com a própria autora escrita de forma simples e sem grandes preocupações literárias com o objectivo de despertar a atenção da sociedade para os problemas que os deficientes da guerra colonial enfrentam. De acordo com as palavras do apresentador da obra, o poeta Melchior Silva, esta história constitui um “apelo às mulheres e a todos nós para que saibamos viver para além da esperança.”

Para além da esperança foi o primeiro livro publicado por Maria Leonarda Tavares.

Outros livros da autora disponíveis na Biblioteca:

- Glicínias;
- A princesa de Porto Santo;
- Sonhar é preciso;
- Um grito de revolta 30 anos depois.

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[1] Excerto do prefácio de Maria Rosa Colaço

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

90 anos de José Saramago

Assinala-se hoje, dia 16 de Novembro, os 90 anos do nascimento de José Saramago. A Biblioteca Municipal de Arganil associa-se às comemorações desta data com o intuito de celebrar a literatura e a obra do escritor que um dia disse “escrevo para desassossegar, não quero leitores conformados, passivos, resignados” e que foi galardoado com o prémio Nobel da Literatura em 1998, precisamente por com “as suas parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia” agitar e despertar a consciência crítica dos seus leitores.

Na Sala de Adultos da Biblioteca está patente uma mostra bibliográfica das obras de Saramago, bem como de diversos livros e artigos sobre o autor e a sua obra. Os nossos visitantes poderão também ler várias frases da autoria de José Saramago, descobrindo assim um pouco mais sobre as suas opiniões pessoais, que tantas vezes agitaram o meio político, social e religioso.

Se quiser saber quais as obras do e sobre o autor que temos disponíveis consulte o catálogo concelhio.

Para saber mais sobre as iniciativas que decorrem no país consulte:

Blog 90 anos de José Saramago

Para saber mais sobre José Saramago e a sua obra consulte:

Colecção José Saramago – Biblioteca Nacional
Saramago no Projecto Vercial
Saramago na Infopédia

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16 de Novembro - Dia Nacional do Mar

No dia 16 de Novembro celebra-se em Portugal o Dia Nacional do Mar. Neste dia, em 1994, entrou em vigor a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) que estabeleceu um novo quadro jurídico para o direito do mar. Ao ratificar a CNUDM, a 14 de Outubro de 1997, Portugal assumiu responsabilidades numa das áreas marítimas mais extensas da Europa, e a maior da União Europeia, com uma dimensão 18 vezes superior ao território nacional.

Em 1998, o dia 16 de Novembro foi institucionalizado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 83/1998, de 10 de Julho, como o Dia Nacional do Mar e, desde então, tem vindo a ser evocado através de uma série de eventos e iniciativas.

O mar e a literatura

O mar reveste uma importância de relevo para a sociedade portuguesa, não apenas a nível social, económico e turístico, mas também como elemento presente na cultura e consequentemente na literatura. O mar e os mistérios das suas profundezas inspiraram e continuam a inspirar muitos escritores.

Muitas são as obras em que a influência do mar está bem presente: Os lusíadas de Luís de Camões; A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto; o Sermão de Santo António aos Peixes; Histórias da terra e do mar e a Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen; As naus de António Lobo Antunes; As naus de verde pinho de Manuel Alegre, entre outras são disso exemplo.

Se esta temática lhe desperta a atenção sugerimos a leitura dos seguintes trabalhos:

O mar, as descobertas e a literatura portuguesa/ J. Cândido Martins. Disponível em:

Presença do Mar na Literatura Portuguesa de Annabela Rita. Disponível em:

O mar na literatura infanto-juvenil: topos mítico-simbólico de Maria João Lopes Gonçalves. Disponível em:

Os escritores e o mar de João Vaz. Disponível em: http://maritimo.blogspot.pt/

Aproveitamos também para recordar que a sétima edição da Semana da Leitura promovida pelo PNL (Ler+escolas), que decorrerá em Março, propõe como tema central o Mar.

Procure no catálogo on-line ou nas bibliotecas do concelho livros e vídeos sobre esta temática.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Dia Mundial da Filosofia - 15 de Novembro

O Dia Mundial da Filosofia é celebrado anualmente na terceira quinta-feira de Novembro e foi estabelecido em 2005 pela UNESCO com o objectivo de mostrar a importância desta disciplina, sobretudo para os mais jovens, como uma disciplina que encoraja o pensamento crítico e independente e que nos dá ferramentas para melhor compreender o mundo e promover a tolerância e a paz.

“Muitos pensadores afirmam que a “admiração” é a raiz da filosofia. De facto a filosofia nasce da tendência natural do homem de se surpreender a si mesmo e de se deixar surpreender pelo mundo em que vive.
A filosofia, considerada como uma forma de “sabedoria”, ensina-nos a reflectir sobre a própria reflexão, a questionar continuamente as verdades estabelecidas, a verificar as hipóteses e a encontrar conclusões.
Ao longo de séculos, em cada cultura, a filosofia fez nascer conceitos, ideias e análises, e assim estabeleceu as bases para um pensamento crítico, independente e criativo.”

Adaptação a partir do texto em inglês de Mika Shino, UNESCO
Disponível em:
http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/philosophy/philosophy-day-at-unesco/why-a-philosophy-day/

O tema para o dia Mundial da Filosofia 2012 é: Gerações Futuras. Um tema pertinente na medida em que este ano se assinala o 15º aniversário da adopção pela UNESCO da Declaração sobre as Responsabilidades das Gerações Presentes para com as Gerações Futuras, bem como 300º aniversário do nascimento de Jean-Jacques Rosseau.

Para saber mais sobre esta temática consulte:

http://www.unesco.org/new/en/unesco/events/major-events/?tx_browser_pi1%5BshowUid%5D=5629&cHash=2c003f9e28

http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/philosophy/philosophy-day-at-unesco/

Se gosta de filosofia visite a Biblioteca Municipal e consulte a nossa estante de filosofia. Temos disponíveis mais de 600 livros sobre esta temática.

Poderá também consultar o nosso catálogo concelhio para ficar a saber que obras temos disponíveis para si!
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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Divulgando o fundo local XVII: Peninsulares

Peninsulares de J. Simões Dias

Peninsulares, obra publicada pela primeira vez em 1863, é a compilação dos trabalhos poéticos de José Simões Dias escritos sobretudo entre os seus 18 e 28 anos. Versos amorosos e elegíacos de carácter subjectivo e sabor popular são as características dos poemas que constituem esta obra.

Como escreve Sanches de Frias, biografo e amigo de Simões Dias, a poesia de Simões Dias “é terna, amorosa e acentuadamente nacional e humana” que não envelhecerá nunca “porque tem o selo da beleza eterna. Entretanto acima de todos os juízos, nossos e alheios, está o juízo do povo, que, em rapsódias de larga vulgarização, espalha pelos cegos ambulantes e pela gente dos campos os versos do menestrel (…) quando um poeta, como ele, chega a traduzir em formulas espontâneas, quase inconscientes, profundamente populares, o espírito tradicional da sua raça, corporizando em versos a alma anónima da multidão, esse poeta, que, com tanta justeza, sabe interpretar o sentimento colectivo, conquistou um lugar indisputável na história literária do seu país, a que pertence mais que a si próprio.”

Simões Dias, foi a par de Brás Garcia Mascarenhas, o único poeta da Beira Serra, no século XIX, cuja obra teve repercussão nacional.

Sonata

Acorda, meu amor, abre a vidraça,
Vem ver a noite como é bella agora!
Emquanto a lua nas alturas passa,
Ouve a guitarra que soluça e chora!

Dormes acaso, pomba branca mansa?
Quem te acordará, meu amor perfeito!
Só nunca dorme, nem sequer descança
A immensa fragua que me escalda o peito!

Acorda, acorda, amor; abre a vidraça
A noite é bella, os corações enleia!
Emquanto a lua nas alturas passa,
Ouve a guitarra que por ti anseia!
Leia, porque ler é um prazer!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Manuel António Pina

Manuel António Pina, um dos grandes poetas portugueses e um dos nossos maiores cronistas e autores de literatura infanto-juvenil, faleceu no passado dia 19 de Outubro, aos 68 anos.

Como se pode ler na edição nº 1098 do Jornal de Letras, Artes e Ideias, “ao correr de quatro décadas, de literatura e jornalismo”, Manuel António Pina “construiu uma ‘casa de palavras’, uma obra singular e intensa”.

Como forma de evocação do autor e da sua obra aproveitamos para destacar três dos seus livros como convite à leitura e à descoberta do homem que um dia afirmou “Escrevo o livro comigo mesmo, com o meu sangue, com a minha vida, com a minha memória.”

Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde

Trata-se do livro de estreia do autor, publicado em 1974.
“Os primeiros poemas de M. A. Pina, não sendo estritamente políticos, documentam uma certa "paz dos cemitérios" e sugerem que "não é possível dizer mais nada mas também não é possível ficar calado". Embora seja tarde, talvez não seja ainda demasiado tarde. A dimensão crítica desses poemas assume um registo surrealizante, lúdico e desconstrutivo, fazendo inventários, parodiando a linguagem oficial, em versos inesperados, inventivos, recorrendo a exclamações, interjeições, a súbitas apoteoses líricas contrabandeadas no meio do sarcasmo.”

Pedro Mexia in expresso nº 2083 (29.09.2012), suplemento actual

Aquilo que os olhos vêem ou o Adamastor

“Trata-se de um texto dramático sobre a passagem do cabo Tormentório pelas caravelas portuguesas e o encontro (lendário) com o Gigante Adamastor, criado por Camões, nos seus Os Lusíadas. O protagonista é um jovem portuense que mora na angra de S. Brás, próximo do cabo da Boa Esperança, e a acção passa-se em 1501. A história é contada, a bordo, por Mestre João, físico e astrónomo, e recorre-se, por vezes, a várias retrospectivas, em casa do jovem Manuel, em contracenas com os pais e a irmã. A intenção do dramaturgo não é suficientemente clara, em termos teatrais, mas a linguagem é fluente e com beleza literária. Todavia, os arcaísmos do auto ensaiado a bordo brigam com a escrita empregue na peça. Foi preocupação do autor dar informações históricas sobre a vida a bordo das nossas caravelas, durante os Descobrimentos. As fotografias do espectáculo convencem-nos sobre a qualidade da representação.”

António Couto Viana - http://www.leitura.gulbenkian.pt

O Anacronista

Publicado em 1994 é uma compilação de crónicas que Manuel António Pina escreveu no Jornal de Notícias, na Marie Claire e em O Jornal, crónicas às quais o autor deu uma arrumação temática. Nas páginas de O Anacronista “passam as perplexidades, os gestos, os rostos, os pequenos e torpes personagens e as grandezas e infâmias de que todos os dias se fazem e, depois em memória e em esquecimento se desfazem, a vida dos homens e a vida dos jornais.”

Se quiser saber mais sobre o autor consulte:



- Jornal de Letras, Artes e Ideias nº 303, nº 556, nº 899, nº 1035, nº 1066 e nº 1098

Consulte o catálogo concelhio da rede de bibliotecas do concelho de Arganil para saber que outras obras do autor temos disponíveis para si!

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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Divulgando o fundo local XVI: Teia de emoções

TEIA DE EMOÇÕES DE MARIA ALBERTINA DINIS JORGE

Teia de emoções é o quarto livro da autoria de Maria Albertina Dinis Jorge. “De escrita simples, mas com uma sensibilidade extravagante”, a escritora “leva-nos para um mundo onde a poesia nos cativa e nos faz desabrochar”, mais de que um livro Teia de emoções “é um tratado de sentimentos, nos quais se espraiam os afectos, os sentidos e as estórias de momentos de uma vida vivida na serenidade de quem ensina e aprende.” (1)

“Ao terminar a leitura deste livro (…) sente-se a corrente da vitalidade, da força e de coragem que atravessam a vida da autora. Tem uma alma quente e comunicante; respira afeições que o tempo refresca e desperta. São tudo questões de coração; intensas, vivas e inquietantes.
Percorremos uma imensidão de experiências com o carisma de épocas acumuladas. Divagamos por um itinerário de sensibilidade sem que nada manche a pureza do caminho.
A poesia, como a sua alma, é límpida e transparente. (…) (2)

Maria Albertina Dinis Jorge nasceu em 1938 na Quinta do Péguinho no Sarzedo. Foi professora do ensino primário e depois da sua aposentação dedicou-se às artes decorativas (estanho e pintura) e à escrita. Para além da obra apresentada publicou: Senti e escrevi; Flores e sonhos e Rumos e rimas.

Mata…

Na minha terra há uma mata!
Ou por outra,
na minha terra há muitas matas…
Mas esta é especial.
Sabem porquê especial?
Por todos nós é amada,
conhecida e explorada:
- é a Mata do Hospital!
À sombra das suas árvores
dormem mil recordações…
Do chão vem o cheiro a barro,
no ar a seiva dos pinheiros,
essência que se desprende,
enche e lava os pulmões.
És berço da passarada
Que faz chegar seus trinados
ao coração de Arganil.
Inspiração de poetas…
És geradora de sonhos,
dos que em anos mais risonhos
miram o teu céu anil.
És a testemunha muda
de amores e devaneios.
Nos teus trilhos e carreiros
tantas, tantas gerações
deram saudosos passeios.
Bem-haja a toda a equipa
que com saber e ciência,
arte amor e persistência,
desenvolveu esforços mil
p’ra mais beleza criar
e tanto valorizar
este brinco de Arganil.

(1) Miguel Gonçalves in A Comarca de Arganil nº 11896 (17.03.2011)
(2) Leonarda Tavares in A Comarca de Arganil nº 11901 (21.04.2011)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Livro do mês: Histórias da terra e do mar

Histórias da Terra e do Mar é um livro da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado em 1984.

É composto por cinco contos - "História da Gata Borralheira", "O Silêncio", "A Casa do Mar", "Saga" e "Vila d'Arcos" - que nos transportam para o universo da infância. Cada um deles tem uma harmonia própria que vive de alargadas descrições, de personagens encantadas e de metáforas expressivas.

“Cinco pequenas estórias, a ilustrar a beleza intemporal dos espaços habitados por seres humanos, enquanto espelhos das almas que os habitam. Uma mão cheia de contos, em cujo âmago extraímos o desejo de liberdade de pensamento, liberdade de expressão e liberdade de escolha.”

Claúdia Sousa Dias

“O mundo da infância foi assim, para Sophia, além do Porto e da Granja, das tradições nórdicas e da língua portuguesa, o caminho para um encontro aos doze anos com Homero e a luz mediterrânica, a nostalgia do «divino como convém ao real», tornado-a «uma mistura de Norte e Sul», uma mistura de Atlântico e Mediterrâneo, de um veio nórdico e de um veio helénico, que um mesmo sangue fez inseparáveis.”

Miguel Serras Pereira in «Jornal de Letras»

“A casa está construída na duna e separada das outras casas do sítio. Esse isolamento cria nela uma unidade, um mundo. O rumor das ondas, o perfume do sal, o vidrado da luz marinha, o ar varrido de brisas e vento, a cal do muro, os nevoeiros imóveis, o arfar ressoante do mar estabelecem em seu redor grandes espaços vazios, tumultuosas e limpos onde tudo se abre e vibra.
A casa é construída de pedra e cal e a sua frente está virada para o mar.
No andar de cima da fachada há três janelas e uma varanda com grades de madeira. No andar de baixo há três janelas e uma porta. Essa porta, as janelas e as grades da varanda estão pintadas de verde. No chão, ao longo da parede, corre um passeio de pedra que separa a casa das areias da duna.
Para além das dunas a praia estende-se a todo o comprimento da costa e só o limite do olhar a limita. E, de norte a sul, ao longo das areias, correm três linhas escuras e grossas de algas, búzios e conchas, misturados com ouriços, pedaços de cortiça e pedaços de madeira que são restos de bóias e de barcos. Sobre a areia molhada que a maré cheia alisou o poisar das gaivotas deixa finas pegadas triangulares, semelhantes à escrita de um tempo antiquíssimo.
As traseiras da casa dão para um jardim inculto e rude e áspero onde o vento que dobra os arbustos se precipita e dança em volta do poço redondo. O chão está coberto de pequenas pedras soltas que rangem e saltam sob os passos. Presa num arame a roupa lavada a secar ao sol estala e palpita como as velas de um navio.”

Excerto de “A casa do mar”