sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Livro do mês: Histórias da terra e do mar

Histórias da Terra e do Mar é um livro da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado em 1984.

É composto por cinco contos - "História da Gata Borralheira", "O Silêncio", "A Casa do Mar", "Saga" e "Vila d'Arcos" - que nos transportam para o universo da infância. Cada um deles tem uma harmonia própria que vive de alargadas descrições, de personagens encantadas e de metáforas expressivas.

“Cinco pequenas estórias, a ilustrar a beleza intemporal dos espaços habitados por seres humanos, enquanto espelhos das almas que os habitam. Uma mão cheia de contos, em cujo âmago extraímos o desejo de liberdade de pensamento, liberdade de expressão e liberdade de escolha.”

Claúdia Sousa Dias

“O mundo da infância foi assim, para Sophia, além do Porto e da Granja, das tradições nórdicas e da língua portuguesa, o caminho para um encontro aos doze anos com Homero e a luz mediterrânica, a nostalgia do «divino como convém ao real», tornado-a «uma mistura de Norte e Sul», uma mistura de Atlântico e Mediterrâneo, de um veio nórdico e de um veio helénico, que um mesmo sangue fez inseparáveis.”

Miguel Serras Pereira in «Jornal de Letras»

“A casa está construída na duna e separada das outras casas do sítio. Esse isolamento cria nela uma unidade, um mundo. O rumor das ondas, o perfume do sal, o vidrado da luz marinha, o ar varrido de brisas e vento, a cal do muro, os nevoeiros imóveis, o arfar ressoante do mar estabelecem em seu redor grandes espaços vazios, tumultuosas e limpos onde tudo se abre e vibra.
A casa é construída de pedra e cal e a sua frente está virada para o mar.
No andar de cima da fachada há três janelas e uma varanda com grades de madeira. No andar de baixo há três janelas e uma porta. Essa porta, as janelas e as grades da varanda estão pintadas de verde. No chão, ao longo da parede, corre um passeio de pedra que separa a casa das areias da duna.
Para além das dunas a praia estende-se a todo o comprimento da costa e só o limite do olhar a limita. E, de norte a sul, ao longo das areias, correm três linhas escuras e grossas de algas, búzios e conchas, misturados com ouriços, pedaços de cortiça e pedaços de madeira que são restos de bóias e de barcos. Sobre a areia molhada que a maré cheia alisou o poisar das gaivotas deixa finas pegadas triangulares, semelhantes à escrita de um tempo antiquíssimo.
As traseiras da casa dão para um jardim inculto e rude e áspero onde o vento que dobra os arbustos se precipita e dança em volta do poço redondo. O chão está coberto de pequenas pedras soltas que rangem e saltam sob os passos. Presa num arame a roupa lavada a secar ao sol estala e palpita como as velas de um navio.”

Excerto de “A casa do mar”

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