terça-feira, 20 de março de 2012

Primavera

Primavera

Na madrugada incerta
Uma fonte acordou.

Nas árvores desnudas
Os gomos estremecem.

De uma nuvem doirada
Duas lágrimas caíram.

Ergueu-se a cotovia,
Subiu no ar, cantou.

As rolas arrolaram
Num salgueiral distante.

O voo de uma andorinha
Riscou veloz o céu.

Tuas mãos esqueceram-se
Um instante nas minhas.

Cruzou-se o olhar surpreso
De dois adolescentes.

O cálix de uma rosa
Descerrou o corpete.

E um pastorinho, vendo
Abrir a flor, sorriu.

Américo Durão
In: Poesias Completas

Nota biográfica:

Américo de Oliveira Durão nasceu a 26 de Outubro de 1893 em Coruche.
Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, foi diplomata, professor, funcionário superior da Câmara Municipal de Guimarães e da de Lisboa.
Foi colaborador das revistas A Águia, Contemporânea e Seara Nova.
Foi dramaturgo e notabilizou-se como poeta, herdeiro das correntes decadentista e simbolista, como Florbela Espanca, de quem foi amigo.
Faleceu a 7 de Março de 1969, em Lisboa.

 Nota: A biblioteca tem disponível para empréstimo o livro poesias completas de Américo Durão.

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