sexta-feira, 1 de abril de 2011

Livro do mês: O rapaz que amava Anne Frank

FELDMAN, Ellen - O rapaz que amava Anne Frank. 1ª ed. Cascais : Flamingo, 2006. 246, [2] p. ISBN 989-6130-51-5

Quase toda a gente reconhece o nome Anne Frank. Este nome é sinónimo de honestidade, inteligência e bravura. O seu diário tocou milhões de pessoas.

Peter van Pels foi um menino que esteve escondido no anexo com Anne Frank e a sua família. A 16 de Fevereiro de 1944, Anne escreve no seu diário: “Ele “Peter” disse que depois da guerra tudo faria para que ninguém soubesse que era judeu.”

No seu romance “O rapaz que amava Anne Frank”, Ellen Feldman imagina um homem, neste caso Peter, que com a simples visão do livro “O diário de Anne Frank” sofre uma ruptura mental.

Sete anos passados sobre o fim da Guerra, Peter emigra para Nova Iorque, a terra da auto-criação, tem sucesso nos negócios, casa e constitui família. Vive no presente, planeia o futuro e tenta a todo o custo esquecer e ocultar o seu passado, até que vê na capa de um livro que a sua mulher está a ler o rosto inconfundível de Anne Frank e vê o passado a submergir do lugar mais recôndito da sua memória, vendo-se assim forçado a confrontar o seus fantasmas e medos numa profunda luta interior.

Este é um romance sobre a memória da morte, a morte da memória, e a inevitabilidade do passado. O rapaz que amava Anne Frank é um romance complexo e sombrio sobre o impacto da guerra sobre o espírito humano. Um romance de lembrar e esquecer, profundamente comovente.

Excerto:

“Foi então que o vi. Pousado no topo de uma estante baixa colocada atrás da secretária dele. Não consigo perceber como não reparei nele antes, mas a verdade é que tão-pouco compreendo como pude apagá-lo da memória na noite em que Madeleine pegou num dos livros que tinha sobre a mesa-de-cabeceira e eu perdi a voz. Era o mesmo livro. Tinha a certeza que era, embora não conseguisse entender como é que ele podia existir. A sobrecapa era cor de ferrugem, cor de sangue seco. A fotografia dela ocupava metade da capa. Os olhos enormes estavam pousados em mim. Eram acusadoramente negros. A boca carnuda fixara-se num trejeito. De que tipo? Crítico. O rosto era pequeno, os ombros estreitos e inacreditavelmente frágeis. Tinha-me esquecido de que ela era uma criança. Nunca havia de ser outra coisa. Como era possível? Ela tinha morrido. Tinham morrido todos, todos menos Otto. Ficara a sabê-lo a partir das listas da Cruz Vermelha. Eu era o único sobre o qual não havia registos.” (p. 81-82)

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