quarta-feira, 13 de maio de 2009

A honra de ser leitor

Aqui não se fazem castelos no ar, não é meus alunos? Às vezes quereis, às vezes pedinchais por vossos belos castelinhos sem nenhum alicerce, belas mofinas mendes que me saís, convencidos de que a «honra» é um «brial de escarlata». Mas não, de certeza que não é assim, meus alunos. Coisas destas também as vamos aprendendo ao ler os nossos gil vicentes e camões e vieiras e garrettes e eças e camilos e até senas e ferreiras e alegres e sophias e torgas e… e…

Ler! Ora aí está. Ora aqui está outra coisa que não vos é fácil. Como vos é difícil apreender a honorabilidade de ler! A honra de ser leitor. Quem vos dera, meus queridos alunos, que ler fosse um modo de trazer coisas recortadas que basta colar para que sejam lindas. Pois assim não é. Pois não tem a banalidade fácil de um copy-paste, esse artesanato ilusivo do saber. Tendes sonhos vãos, meus alunos. O sonho de que ler fosse olhar para a bela capa de um livro, como quando olháveis para as ilustrações dos livros da infância, e, in promptu, ficar ele recortado e colado na vossa alma. Fresquinho, recente, memorado, para que dele pudésseis falar sem medo, sem defesa, sem resistência, como se fôsseis apenas um medium. Mas não.

In: Carta de uma professora aos seus últimos alunos
(texto de Maria Almira Soares)

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é bem vindo! Partilhe as suas ideias sobre livros e escritores, tente seduzir alguém para o prazer de ler!